Privacidade, Proteção De Dados e Inteligência Artificial

18 de setembro de 2024 - quarta

Liberdade acadêmica, desinformação e responsabilidade coletiva: um alerta sobre o papel da ciência na sociedade

Por Solano de Camargo, presidente da Comissão de Privacidade, Proteção Dados e Inteligência Artificial da OAB SP

Duas mulheres sentadas à mesa, cercadas por símbolos científicos, discutindo ideias e inovações na área da ciência.


O recente caso noticiado pelo portal Migalhas, no qual duas cientistas foram condenadas por desmentirem a alegação de que vermes causam diabetes, levanta preocupações profundas sobre os limites da liberdade de expressão acadêmica e as consequências de decisões judiciais que podem impactar negativamente o progresso científico. Ao tratarem do assunto em seu canal no YouTube, as cientistas buscavam cumprir um papel essencial na sociedade: disseminar informações precisas e confiáveis baseadas em evidências. No entanto, ao serem penalizadas por esse esforço, abre-se uma discussão urgente sobre o equilíbrio entre o direito de imagem e a necessidade de combater a desinformação.

A liberdade de expressão acadêmica é um dos pilares fundamentais para o avanço do conhecimento científico. Quando essa liberdade é cerceada, como se observou neste episódio, a ciência e a sociedade como um todo perdem. Limitar o debate acadêmico e a possibilidade de refutar informações incorretas coloca em risco o bem-estar público, especialmente em áreas sensíveis como a saúde. A ciência prospera com o confronto de ideias e a constante verificação de dados, e esse processo deve ser protegido em todos os âmbitos.

O combate à desinformação, particularmente no campo da saúde, é uma responsabilidade coletiva de grande importância. A proliferação de notícias falsas e teorias sem embasamento científico coloca a vida de muitas pessoas em risco, uma vez que decisões mal informadas podem levar a tratamentos inadequados e consequências graves para a saúde pública. A correção de informações erradas deve ser incentivada, e os profissionais que atuam nesse sentido precisam de suporte e proteção, não de penalizações judiciais.

Nesse contexto, a responsabilidade coletiva se torna ainda mais relevante. Não é apenas um dever dos cientistas ou dos acadêmicos combater a desinformação, mas de toda a sociedade. Quando figuras públicas ou influenciadores disseminam informações equivocadas, cabe à comunidade científica desmentir e esclarecer, sem receio de represálias legais. Apoiar aqueles que se dedicam a esclarecer o público é uma responsabilidade de todos, especialmente em tempos de grandes incertezas.

Sob a ótica da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), essa decisão judicial merece ser revista. As cientistas, ao corrigirem informações falsas sobre saúde, estavam atuando em prol do interesse público, exercendo o direito à liberdade de expressão acadêmica. Embora a LGPD proteja a imagem e os dados pessoais, ela também prevê exceções claras para atividades acadêmicas, jornalísticas e artísticas quando há interesse público envolvido. Penalizar quem busca proteger a sociedade da desinformação parece contrariar os princípios dessa legislação.

E a decisão judicial que penalizou as cientistas ignora o papel fundamental que a liberdade de expressão acadêmica desempenha na construção de uma sociedade bem informada e saudável. É preciso repensar o modo como tratamos a responsabilidade coletiva no combate à desinformação, assegurando que a ciência continue a cumprir seu papel de informar e proteger o público sem temer represálias jurídicas injustas.

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