“De que adianta fazer um vídeo todo formal, falando de Direito em uma linguagem supertécnica, se as pessoas não vão entender?”. Esse questionamento foi o pontapé inicial para que o jovem advogado Nicolas Glória, que participou sábado (16) do 1º Congresso Estadual da Jovem Advocacia na sede da OAB SP (leia mais abaixo), decidisse trilhar a carreira de influenciador, produzindo conteúdo de direito trabalhista de uma maneira diferente, “menos quadrada”, como ele mesmo diz.
“Comecei a falar na linguagem do povo, usando gírias, sem formalidade. Explico a legislação de um jeito fácil e coloco o texto completo da lei na descrição do vídeo. É sempre um choque quando veem um rosto jovem, negro, de camisa de time, falando sobre Direito”, conta.
Nicolas, de 24 anos, nasceu na comunidade Jardim Elisa Maria, na periferia de São Paulo. Na faculdade, quando começou a consumir vídeos de advocacia na internet, percebeu que todos seguiam o mesmo padrão. “Duas questões sempre me chamavam a atenção. Não ter advogado negro e todas as linguagens serem muito formais. A pessoa vê o vídeo e fica com mais dúvidas, não entende nada. Eu quis solucionar isso”, explica.
Após pouco mais de um ano trabalhando como influenciador na área, Nicolas soma postagens com 3 milhões de visualizações no Facebook, tem mais de 45 mil seguidores no Instagram e um índice alto de entrega no Tiktok. “Tenho que estar em todos os lugares. A dica é essa: ser onipresente. Outro conselho que dou é que vídeo longo não compensa. Meus vídeos têm até 1 minuto e meio e estão em todas as plataformas. Isso fez com que eles viralizassem”, comemora.
A marca registrada de seus conteúdos é o jargão engraçadinho dito ao final de cada gravação: “Sabe por que você sabe disso? Porque você segue o advogado mais bonito do Brasil!”.
‘A advocacia mudou’
A estratégia de marketing deu certo e as pessoas começaram a acioná-lo via redes sociais. Trabalhando de forma autônoma, Nicolas abriu seu próprio escritório, está contratando funcionários e estima que cerca de 97% dos clientes que atende chegam por meio da internet. “A advocacia mudou. Hoje, o advogado que não está online vai deixar de ser advogado. É triste, vejo advogados que não se atualizam e não conseguem mais viver da advocacia”, comenta.
Apesar da carreira bem-sucedida, o produtor de conteúdo ainda sente preconceito de colegas de profissão mais conservadores que, de acordo com Nicolas, acham que está “fazendo piada com o Direito”. Ele afirma não se importar com as críticas, uma vez que está apenas “se adequando às necessidades do seu público”.
“Algo que eu aprendi é que você pode escolher ser uma Bic, uma Montblanc ou uma Faber Castell”, diz, se referindo a marcas de canetas. “Todas vão dar lucro, mas cada uma tem um cliente diferente. Meus clientes são marginalizados, não têm tanto recurso financeiro. É aquele reclamante que saiu da empresa com uma mão na frente e outra atrás.”
Congresso
O advogado foi uma das mais de 800 pessoas circulando pelos corredores da sede da OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo) no Congresso Estadual da Jovem Advocacia, realizado no último sábado (16). O evento trouxe mais de 30 palestrantes para compartilhar com estudantes de Direito e profissionais em início de carreira as dicas e tendências do cenário jurídico atual.
“É a nossa chance [dos jovens advogados] de encontrar pessoas que já passaram pelo o que passamos e que podem dar insights que nunca iríamos descobrir sozinhos. A OAB é um guia, que vai te direcionar para caminhos que você não está enxergando. Hoje eu vim aqui para fazer networking e divulgar o meu trabalho. Estou adorando essa superoportunidade”, concluiu.