A ascensão da inteligência artificial (IA) está remodelando rapidamente o mercado de trabalho, transformando a forma como muitas profissões são desempenhadas e criando novos campos de atuação que antes eram impensáveis. A velocidade e o impacto dessas mudanças levantam questionamentos profundos sobre o futuro das carreiras tradicionais e o surgimento de novas especializações. O advento da IA não é apenas uma evolução tecnológica, mas uma verdadeira revolução social e econômica.
O receio de que a IA substitua os trabalhadores humanos é legítimo, mas é preciso olhar além do medo e enxergar as oportunidades. Muitas profissões que envolvem tarefas repetitivas e altamente automatizáveis estão, de fato, sob ameaça. Ocupações em áreas como telemarketing, processamento de dados e até mesmo funções administrativas podem ser fortemente impactadas pela automação, conforme estudos recentes apontam. No entanto, isso não significa que o mercado de trabalho será dizimado. A IA, como qualquer avanço tecnológico, destrói algumas ocupações enquanto cria outras.
No setor jurídico, essa transformação também é visível. Ferramentas de IA já estão sendo utilizadas para automatizar tarefas rotineiras, como a pesquisa de jurisprudência e a análise de contratos. Softwares de análise preditiva são capazes de avaliar grandes volumes de dados e identificar padrões em decisões judiciais, auxiliando advogados e juízes na elaboração de estratégias e na tomada de decisões. Isso reduz significativamente o tempo gasto em atividades burocráticas, permitindo que os profissionais do direito se concentrem em questões mais estratégicas e complexas. No entanto, isso também significa que áreas de atuação puramente processuais, especialmente em questões repetitivas, podem sofrer redução de demanda, como é o caso de ações de massa, nas quais a automatização pode substituir parte do trabalho humano.
Novas profissões estão surgindo, muitas delas ligadas ao próprio desenvolvimento e gestão de tecnologias de IA. No campo jurídico, o surgimento de especialistas em compliance de IA, advogados de proteção de dados e consultores em governança digital reflete a necessidade crescente de conhecimento técnico e legal combinado. Esses profissionais serão responsáveis por garantir que as empresas utilizem a IA de maneira ética e dentro dos limites legais, o que exigirá uma sólida compreensão das regulamentações em constante evolução, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e suas implicações no uso de dados pessoais por sistemas automatizados.
Ainda, o uso de IA nos tribunais já começa a ser testado em alguns países. Na China, tribunais estão utilizando algoritmos para acelerar o julgamento de casos simples e repetitivos, como disputas de consumo. Embora essa prática possa liberar recursos para casos mais complexos, levanta questões sobre a imparcialidade da decisão automatizada, o que evidencia a importância de advogados e juristas especializados em supervisão de IA, garantindo que esses sistemas sejam justos e transparentes.
Certas áreas do Direito, contudo, são menos propensas à automação. Funções que envolvem a interpretação de normas legais e argumentação jurídica complexa, como litígios estratégicos e advocacia consultiva em negócios, ainda dependem fortemente da criatividade, julgamento humano e sensibilidade. A personalização do serviço jurídico, bem como a capacidade de entender nuances culturais e sociais, são características que a IA ainda não consegue replicar de maneira eficaz.
O setor jurídico também precisará investir em educação e treinamento contínuos para preparar seus profissionais para essas transformações. A requalificação será essencial para que advogados e operadores do Direito possam lidar com as novas ferramentas tecnológicas, sem que isso signifique a substituição de suas funções. A IA não eliminará o trabalho humano, mas exigirá que os trabalhadores desenvolvam novas competências, como habilidades em tecnologia da informação, governança de dados e ética digital.