Fenalaw 2024

24 de outubro de 2024 - quinta

Fenalaw 2024 reúne CEOs de grandes bancas para discutir liderança, gestão de pessoas e inovação

Sob o comando do conselheiro federal Cajé, painel abriu o segundo dia de evento tratando do futuro da advocacia


A Fenalaw 2024, um dos principais eventos jurídicos do país, trouxe para o segundo dia de evento, nesta quinta-feira (24), uma mesa de debate com CEOs de alguns dos maiores escritórios de advocacia do Brasil, moderada por Carlos José Santos da Silva, o Cajé, sócio do Machado Meyer e conselheiro federal por São Paulo. O tema central foi a trajetória e os desafios de assumir a liderança em escritórios de grande porte, além da necessidade de adaptação às novas gerações e o papel da tecnologia, especialmente a inteligência artificial, na prática jurídica.

Experiências que moldaram lideranças

Cada participante compartilhou suas jornadas até os cargos de liderança. Paula Surerus, sócia-gestora do Veirano Advogados, destacou seus 27 anos de carreira e mencionou a importância de uma cultura humanizada no escritório, alinhada com sua personalidade aberta e relacional. Já Pedro Whitaker, do Mattos Filho, ressaltou as oportunidades que recebeu desde os primeiros dias como advogado na banca, mencionando a colaboração como um diferencial do escritório.

Paulo Rocha, do Demarest, que está em transição após 12 anos de gestão, afirmou que a posição de líder surge de forma natural, e externou ainda sua expectativa para o processo de sucessão na liderança do escritório.

Já Tito Andrade, do Machado Meyer, reforçou a importância de um bom relacionamento com colegas e clientes, dizendo que sua dedicação e envolvimento nas comissões do escritório foram essenciais para seu crescimento. O advogado sempre fez questão de chegar mais cedo para trabalhar, o que chamou atenção da gestão.

Para Luiz Gustavo Bichara, sócio-fundador do Bichara Advogados, fazer gestão é como ‘ginástica’, algo necessário, mas nem sempre agradável. Ele se identifica como um advogado que prefere o trabalho jurídico ao gerenciamento de pessoas.

Fernando Alves Meira, do Pinheiro Neto, relembrou sua trajetória desde estagiário até a posição de sócio gestor, após passar por diversas funções administrativas no escritório. Ele destacou ainda que esse caminho é muito comum na banca, onde os profissionais passam 20, 25 anos.

Novas gerações e gestão de pessoas

A relação com as novas gerações foi um ponto de destaque. Tito Andrade e Pedro Whitaker apontaram a necessidade de adaptar a cultura dos escritórios à juventude que hoje compõe a maioria das bancas, com Tito ressaltando a importância de manter a motivação a longo prazo e Pedro destacando a “cara jovem” que o Mattos Filho adquiriu. “Se fôssemos hoje tirar uma foto do perfil do nosso advogado, certamente seria um jovem de vinte e poucos anos”, disse.

Paula Surerus, por sua vez, trouxe à tona a questão da saúde mental, enfatizando que esse tema é cada vez mais relevante na gestão de pessoas e uma preocupação da liderança do Veirano. Camilla Jimene, do Opice Blum, concordou, reforçando que o cuidado com a saúde mental das equipes seria impensável há 10 anos, mas agora é uma prioridade. “Era impensável anos atrás imaginarmos que os CEOs dos maiores escritórios do país estivessem num painel abordando temas como esse”, disse.

Carlos Siqueira Castro complementou dizendo que a mentoria é importante para definir os rumos da carreira, e se preocupa com as futuras gerações. “Tivemos grandes mentores no passado, quem são os mentores dessa geração? O ChatGPT? O Google? Precisamos rever essas coisas”, disse.

Para Bichara, porém, é importante manter uma postura coerente com a profissão: “A disponibilidade é necessária”, afirmou, referindo-se às exigências do mercado. Tito Andrade completou, dizendo que: “o advogado entra nessa profissão sabendo que terá que trabalhar, muitas vezes em final de semana e fora do seu horário. É uma exigência que o trabalho nos impõe”, concluiu.

Modelo de trabalho e desafios do presencial

Outro tema abordado foi o modelo de trabalho. Fernando Meira, do Pinheiro Neto, defendeu o retorno ao presencial como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento profissional e o cumprimento de prazos, pontuando, inclusive, que a postura adotada pelo escritório dividiu opiniões no período pós-pandemia. Por outro lado, Camilla Jimene, do Opice Blum, e Pedro Whitaker apontaram para a flexibilidade, onde Jimene foi além, dizendo que era favorável a trabalhar em qualquer lugar do mundo, desde que tivesse acesso aos documentos necessários.

Segundo Whitaker, cada escritório adota um modelo que melhor se adequa à sua realidade, e no Mattos Filho, o mínimo são três dias presenciais, onde os colaboradores escolhem se vão mais dias ou não. Tito Andrade, do Machado Meyer, reforçou que o aprendizado aumenta no presencial, e por isso a banca adotou o regime 3x2, e insistiu ainda dizendo que não se pode enganar o jovem. “Ao entrar no escritório, ele precisa entender que esse é o estilo de vida e que esse modelo de aprendizado faz parte de uma cultura”, destacou.

Investimento em IA e tecnologia: um futuro inevitável

A revolução da inteligência artificial também foi amplamente discutida. Paulo Rocha afirmou que o impacto do ChatGPT é exponencial e que o maior desafio para os escritórios será treinar advogados para lidar com essas novas ferramentas. Tito Andrade compartilhou a experiência do Machado Meyer, que já em 2016/2017 começou a explorar tecnologias para otimizar tarefas simples e, apesar de proibir o uso do ChatGPT em 2023 por questões de confidencialidade e segurança, desenvolveu ferramentas internas para automatizar tarefas como resumos e pesquisas.

Para Pedro Whitaker, a IA já é parte do dia a dia, mas ainda é cedo para definir quais tecnologias prevalecerão. “O Chat GPT é a plataforma do momento, mas não se sabe até que ponto ela será a mais recomendada. Esse mercado cresce muito rápido. Quem me garante que se eu comprar uma licença desse produto, daqui a dois anos ele será a mais nova?”, pontuou. Já Luiz Gustavo Bichara e Carlos Fernando Siqueira Castro acreditam que a automação impactará o mercado de trabalho, especialmente em áreas mais operacionais, como o Direito trabalhista.

 


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