Privacidade, Proteção De Dados e Inteligência Artificial

09 de abril de 2025 - quarta

IA nas empresas: transformação estratégica, riscos reais e o papel da advocacia

Por Solano de Camargo, presidente da Comissão de Privacidade, Proteção Dados e Inteligência Artificial da OAB SP


O mais recente relatório da consultoria McKinsey, publicado em março de 2025, traz um diagnóstico preciso: o uso da inteligência artificial, por si só, não garante resultados. O estudo, que ouviu quase 1.500 líderes de 101 países, demonstra que os maiores ganhos em produtividade, eficiência e receita estão sendo colhidos por empresas que optaram por reorganizar suas estruturas internas, redesenhar fluxos de trabalho e incluir a IA como parte central de sua estratégia corporativa.

Essas organizações deixaram de ver a IA como um acessório tecnológico e passaram a tratá-la como elemento de transformação profunda, com envolvimento direto da alta liderança. Em empresas onde o CEO participa ativamente da governança da IA, o impacto no lucro operacional é significativamente superior. Não se trata mais de delegar à área de TI, mas de assumir uma missão institucional.

Os dados mostram que empresas mais bem-sucedidas com IA estão:

● reestruturando processos e integrando a IA aos fluxos de trabalho;
● treinando equipes com formações específicas para lidar com IA conforme a função exercida;
● criando grupos dedicados à escalabilidade de soluções algorítmicas;
● adotando modelos híbridos de governança e KPIs focados em impacto.

Mas os riscos não são menores. O relatório destaca que, embora as preocupações com privacidade de dados, segurança cibernética, propriedade intelectual, justiça algorítmica e reputação corporativa estejam aumentando, apenas uma minoria das empresas revisa integralmente os resultados gerados por IA. Esse dado é particularmente sensível para setores como o jurídico, o financeiro e o de atendimento ao consumidor.

A advocacia, nesse cenário, desempenha papel crucial. O compliance algorítmico, a proteção de dados sensíveis, a defesa da propriedade intelectual e a prevenção de riscos regulatórios e reputacionais ganham centralidade. O envolvimento de profissionais do Direito no desenvolvimento, na validação e no monitoramento das soluções de IA é hoje uma exigência — não apenas técnica, mas também ética.

O impacto da IA no mercado de trabalho também exige atenção. Enquanto setores operacionais (como atendimento, RH e logística) devem sofrer redução de quadros, cresce a demanda por profissionais das áreas de TI, engenharia de software, desenvolvimento de produtos e, mais recentemente, engenheiros de prompt e especialistas em ética de IA. Além disso, metade das empresas entrevistadas preveem a necessidade de requalificação em larga escala nos próximos três anos.

Em resumo, o relatório da McKinsey reforça um recado direto: as empresas que extraem valor da IA são aquelas que integram tecnologia, processos e pessoas desde o início. Elas não se limitam a testar ferramentas — constroem uma visão transversal, com governança ativa, visão de longo prazo e cultura organizacional alinhada à inovação.

A advocacia, diante desse cenário, deve se posicionar não apenas como observadora, mas como protagonista do processo de transformação. O desafio que se impõe é claro: como garantir inovação com responsabilidade? E, sobretudo, como construir um ecossistema jurídico preparado para o futuro que já começou?


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